Morávamos no Bairro Cerâmica, que ganhou este nome em função da Cerâmica São Caetano que ficava próxima a nossa casa.
As cerimônias religiosas ainda eram fortes e muito concorridas.
Essas procissões ocorriam geralmente a noite e todos carregavam velas nas mãos. Como a iluminação publica era muito fraca, as ruas se iluminavam com as velas. Quem visse de cima teria a impressão de uma grande cobra iluminada passeando pela cidade.
Eu devia ter por volta de 6 a 7 anos, estávamos em casa nessa noite. Todos esperando a passagem da procissão em frente a nossa casa que começava sempre com o som da reza vindo de lugar nenhum, só um som de murmúrio que vinha crescendo e com ele trazendo a luz. Nessa noite junto com o som da reza, as velas acesas, a imagem do Cristo vieram também vários vagalumes que iluminavam a árvore que havia no quintal. Era impressionante aquelas luzinhas voando incessantemente em volta da árvore e eu correndo atrás deles querendo pegá-los. Era muita coisa acontecendo ao mesmo tempo. A procissão passou, devagar, contrita, rezando e pedindo perdão a Deus, enquanto eu corria alegre atrás dos vagalumes, que com o tempo também se foram. Acho que cansaram da brincadeira na árvore.
Com o passar dos anos, a procissão foi diminuindo e hoje quase não existe mais e, não sei se por coincidência ou não os vagalumes também. Cheguei a pensar que estavam extintos. Consegui ver um há um mês mais ou menos no interior na casa da minha sogra. Talvez eles tenham se refugiado para aqueles lados, tentando encontrar novas procissões.