Sempre achei que UTI fosse ante sala do cemitério e que fosse assim como nos filmes tipo plantão médico. Me enganei redondamente. Felizmente não é a ante sala do cemitério, mas também não é como nos filmes. É um pouco desconfortável aquela cama que sobe e desce e não se tem muito o que fazer a não ser ficar espiando os doentes do lado e o pessoal da enfermagem que fica de plantão, além de dormir dia e noite.
Assim que minha maca móvel chegou na UTI, já fui colocada na cama e como suvenir recebi aquela camisola sexy que deixa a bunda de fora, e quando dei por mim tinha uns cinco enfermeiros em cima de mim colocando aparelho de pressão, colando um monte de terminais pro eletro, colocando um pregador no meu dedo, colando o termômetro, e tentando achar uma veia para o soro e outra para fazer exames. Minhas veias são tímidas por natureza e numa situação dessas então, se juntaram e combinaram que nenhuma ia aparecer. Não sei se tenho mais pena de mim ou do pobre enfermeiro que ficava me espetando e procurando umazinha só para os exames de sangue. Conseguiram achar na mão uma que ficou com aquela agulhinha espetada o tempo todo para o soro, quanto as outras, parecia caça ao tesouro, ganhei também uma máscaro de oxigênio que teimava em ficar toda torta no meu rosto e incomodava bastante Depois desse início animado, tudo ficou mais calmo, só tomando um monte de comprimidos e a pressão sendo medida de hora em hora, assim pude dormir tranquilamente, só brigando com a máscara de oxigênio, e com todos os fios que estavam ligados.
Na manhã seguinte acordei bem e já tomei o café da manhã de hotel, café com leite, torradas e margarina. Fui visitada por uma enfermeira super simpática que trazia consigo umas coisas estranhas e animadissima foi logo dizendo: vamos tomar banho. E antes que eu falasse qualquer coisa, veio com um pano ensopado e cheio de sabonete direto no meu cabelo, e por aí seguiu. Esta foi uma experiência muito interessante, nunca vi ninguém tão rápida e eficiente no seu trabalho, rapidinho ela me deu banho, tirou a roupa de cama comigo em cima e colocou outra, coisa de mágico ilusionista. A única coisa que me deu medo, foi como ficaria meu cabelo quando secasse, afinal ele está acostumado a shampoo, creme de pentear, pente fino e grosso, tudo para poder domá-lo um pouco, tinha medo de ficar com cara de louca, com o cabelo todo revoltado, mas parece que ele entendeu a situação e se comportou direitinho.
Na UTI existem dois horários de visita, as 16h00 e as 21h00 com meia hora em cada um. Lá pelas 15h00 comecei a querer me arrumar, pois sabia que minha mãe estaria lá na primeira fila da entrada, provavelmente junto com a Fátima, minha santa vizinha. Esses horários de visita deixam a gente ansiosa, parece que o tempo não passa, não chega nunca as 16h00. Quando finalmente foi liberada a entrada, eu estava bem ansiosa e ficava olhando para a porta o tempo todo e não via minha mãe. De repente vi meu irmão, que deveria estar em SP trabalhando e estava lá junto com minha mãe. Acho que só agora consigo avaliar a felicidade que senti e a segurança que isso me trouxe, foi muito bom. Conversamos bastante, minha mãe, para minha surpresa, estava bem calma e tranquila.
O tempo é muito relativo e naquele dia meia hora foi rápido demais, e lá se foram eles embora e eu fiquei sozinha de novo, mas não solitária, sabia que tinha com quem contar.
Na visita da noite, eu nem me animei muito pois já tinha recebido minhas visitas, mas sempre dá aquela ansiedade de aparecer alguém, e apareceu a Fátima que resolveu dar um pulinho lá pra ver se estava tudo bem. Conversamos e rimos bastante e mais uma vez meia hora foi muito pouco e lá se foi minha amiga.
A noite na UTI é um capítulo a parte. O que fazer num lugar onde não tem nada para fazer, onde é proibido celular ou qualquer outro equipamento eletrônico. Não podia levantar, sequer ficar sentada, tinha que ficar ali em repouso absoluto, deitada quietinha durante todo o dia e agora durante a noite, e eles esperam que a pessoa tenha sono numa situação dessas. Tinha horas que desejava que chegasse algum paciente com problemas para ver se animava um pouco aquele lugar. Não ia ser ruim, ver a enfermagem correndo e entubando alguém.
Tentei várias coisas, contei carneirinhos, meditação, mantras, relaxamento, mas o máximo que conseguia era dormir umas duas horas e acordar outra vez e recomeçar as técnicas de relaxamento de novo.
E assim passou o tempo até o amanhecer, pelo menos agora eu podia ver um pedaço de árvore que aparecia na janela que ficava lá no alto da parede.
Nesse dia foi mais animado, já pude sentar na cama e consegui uma revista emprestada com uma enfermeira, além da reforma que estavam fazendo no andar de baixo, com marteladas, furadeiras e muito barulho passei o dia. Fiz um tur também pelo Hospital para uma ultrassonografia. Claro que não pude ir andando, então lá fui eu passear pelo Hospital na cadeira de rodas com a camisola sexy, sendo levada pela enfermeira que tenho cá pra mim, precisava de mais umas aulinhas de direção de cadeira de rodas. Mas foi bom mudar de ares e ir ao banheiro em vez de usar a comadre para um simples xixizinho.
Quando a noite chegou o sono foi embora. E lá estava eu as 02h00 da madrugada sentada na cama lendo revista, quando senti uma presença do meu lado, era o médico da noite - Não consegue dormir? - Não, dormi o dia todo - Quer uma coisinha para ajudar? - Ah, se tiver, eu aceito - Ok. E veio o copinho de café com um liquido cor de rosa, perguntei o que era e soube que era Rivotril. Eu nunca tomeir nenhum remédio para dormir, achei o máximo, principalmente pq. deitei, a enfermeira falou algo comigo, que não registrei e só acordei no dia seguinte, sem saber exatamente onde estava. Não é o máximo???
Manhã chuvosa, mas para mim era um dia de glória, afinal depois de deliberação entre os médicos, fui liberada da UTI, com uma frase que adorei: Dona Teresinha, com esse seu astral a senhora nunca vai ter nada, pode ir para o quarto. Tirando o dona e senhora, tive vontade de dar um beijo no médico. Vamos para o quarto.
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